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Notícia


No rastro da sustentabilidade

Interesse dos consumidores por marcas com propósito e compromissos com o meio ambiente impulsiona negócios de vários segmentos.

Os hábitos de consumo mudaram. Se numa ponta dessa transformação está a tecnologia, na outra, há questões de impacto social e ambiental. É crescente o interesse dos consumidores por marcas com propósito e compromissos que vão além do lucro. Com isso, do varejo alimentício à moda, ganham a simpatia e a preferência os itens sustentáveis, sem ingredientes de origem animal e sem testes em bichos. Orgânicos, sem lactose, sem glúten, vegano. Pouco conhecidos até anos atrás, esses termos, ligados à alimentação diferenciada e saudável, estão mais frequentes entre as demandas dos consumidores. E essa tendência pode render bons resultados também à saúde dos negócios de empreendedores atentos. “Trata-se de uma mudança de comportamento de uma geração e do empoderamento coletivo. Pessoas estão sendo influenciadas a abraçar valores éticos e ambientais”, diz a consultora do Sebrae, Letícia Albuquerque, reforçando não se tratar de modismo. A sustentabilidade, afirma ela, é uma macrotendência que vai perdurar. A filosofia da sustentabilidade entrou em pauta na década de 1990. Foi nesse período que ocorreu a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento: Rio-92. Depois vieram as discussões e implantações de políticas públicas como a de destinação de resíduos sólidos e a logística reversa. E a consequente remodelação do sistema econômico. “Desde então, surgiram alternativas e oportunidades de novos negócios”, diz a consultora. Mas foi de 2000 para cá que o conceito de sustentabilidade se ‘popularizou’. “As pessoas sentiram na pele e viveram situações de falta e racionalização de água, por exemplo, e a partir daí se deram conta de que a proteção do meio ambiente é real e necessária”. No entanto, se por um lado o surgimento desse ‘novo público’ trouxe oportunidades de negócios, também trouxe desafios aos empreendedores. Um deles é desenvolver produtos minimamente viáveis diante da segmentação do consumo. Outro é assegurar a qualidade dos rótulos e experimentos. “O tempo de maturidade desses negócios costuma ser maior e exigem investimento significativo. No caso de um chocolate, por exemplo, leva tempo para descobrir uma fórmula que garanta o mesmo gosto sem os ingredientes tradicionais”. Crocante, fininha e gostosa Itanir Pereinha conhece bem esses desafios. Há três anos ele abriu a Pizzaria Artesanal, que tem no cardápio apenas opções de pizza sem lactose e glúten. Mas nem por isso a experiência gastronômica é menos saborosa. “O sabor é idêntico. Se a pessoa experimentar sem saber que não tem glúten e lactose, nem percebe”, garante Pereinha. A Pizzaria Artesanal ‘surgiu’ para atender uma crescente demanda de mercado, porém, o empresário confessa que quase desistiu da empreitada no meio do caminho. Isso porque para chegar à fórmula ideal, demorou quase um ano. Foram vários os experimentos realizados por profissionais da Engenharia de Alimentos. “Queria algo saboroso, que as pessoas tivessem prazer em comer. Deu trabalho, mas enfim chegamos a uma massa crocante, fininha e gostosa, como tem que ser uma pizza”, diz o empresário, acrescentando que as medidas são seguidas à risca pelos funcionários. Outro diferencial é que a pizza precisa ir ao forno duas vezes antes de ser servida, enquanto a tradicional vai uma vez. “Primeiro colocamos só a massa e depois incluímos o recheio”, explica. Os clientes podem escolher entre 28 opções de sabores no cardápio, sendo duas doces: banana e abacaxi. Outras duas estão em fase de teste, uma de chocolate e outra de filé mignon. Segundo Pereinha, são poucos os sabores tradicionais sem versão artesanal. “De quatro queijos, por exemplo, não tem como fazer porque não existe queijo sem lactose”. Sobre a clientela, o empresário classifica em três grupos: o primeiro é composto por celíacos, pessoas intolerantes ou alérgicas ao glúten. Mas a pizzaria também é frequentada por quem alia prática esportiva à alimentação light. No terceiro grupo estão os adeptos de uma alimentação saudável. E Pereinha garante que todos saem satisfeitos, tanto pela qualidade da pizza quanto pelo preço. A pizzaria funciona de terça-feira a domingo, das 18 às 23 horas, e oferece serviço delivery. Hortifruti delivery Foi numa conversa despretensiosa que Fernanda Fontes e Gabriel Peres Duque de Souza tiveram a ideia de criar o Alfacero. Enquanto cozinhava, o casal se surpreendeu com a praticidade da alface higienizada comprada pouco antes no mercado. “Era a única opção de verdura lavada no mercado. Imaginamos como seria mais fácil se todas as verduras viessem prontas para usar”, recorda Fernanda. Estava plantada a ‘sementinha’ do Alfacero. O primeiro hortifruti delivery de Maringá saiu do papel em maio depois de uma intensa pesquisa de mercado. E embora novidade por aqui, a idealizadora confidencia que a ideia não é assim tão original. Na década de 1980, os pais de Fernanda tinham tentando algo semelhante quando moravam em Curitiba. “Eles leram uma reportagem sobre esse tipo de serviço na Austrália. Então começaram a comprar legumes e verduras na Ceasa, higienizá-los e vendê-los. Só que durou pouco tempo porque eles foram trabalhar em outro negócio da família”, conta Fernanda. O hortifruti delivery tem feito sucesso por aqui. Em média, são entregues 25 cestas por semana. Dentro vão frutas, legumes e verduras devidamente higienizados, embalados e prontos para serem consumidos. Há ainda opções de kits de temperos verdes e ingredientes para sopa. Além dos itens, o cliente pode escolher como quer recebê-los: picados, ralados ou apenas descascados. Os pedidos devem ser feitos de quinta-feira a domingo pelo Instagram, onde é divulgado o cardápio da semana. São, em média, dez opções de cada categoria, que variam com a época do ano. A maioria é orgânica e fornecida por produtores locais. O restante vem da Ceasa e eventualmente de supermercados da cidade. O preço varia de R$ 7,50 a R$ 8 o pote. Algumas frutas, como morango, coco e maçã, são vendidas por quilo – 500 gramas custam R$ 5. Para a entrega da cesta, feitas todas às terças-feiras, o gasto mínimo é de R$ 30. Há também a possibilidade de pacotes mensais. “É um pouco mais caro do que comprar no mercado, mas é o custo da praticidade e da facilidade”, ressalta Fernanda. Ela também faz questão de destacar a apresentação do produto, entregues em embalagens atrativas. “Elas têm um estilo clean”. Sobre o perfil da clientela,há tanto consumidores adeptos de hábitos saudáveis como aqueles que estão em busca de uma dieta. Há ainda pais empenhados em introduzir legumes, verduras e frutas na alimentação diária dos filhos. Com a crescente preocupação dos consumidores com uma alimentação saudável, Fernanda e o namorado vivem a expectativa de expandir o negócio. Tanto que eles procuram um local mais espaçoso para abrigar a produção do Alfacero. “Hoje somos em três pessoas e ainda trabalhamos em casa”, diz a empresária. Projeto pessoal A Eora Brasil, empresa que produz e vende cosméticos veganos, naturais e sustentáveis, começou a dar os primeiros passos em 2014 como um projeto pessoal de Marilene dos Santos Marcondes. Vegetariana, a empresária e farmacêutica viu na dificuldade de encontrar produtos para consumo próprio uma oportunidade de provar que um bom negócio para o meio ambiente pode também ser vantajoso para o empreendedor. “Uni uma necessidade pessoal ao propósito de deixar as pessoas mais saudáveis. Sempre consumi produtos com apelo contra a exploração animal, e até pouco tempo era difícil encontrá-los”, diz. Ela atribuiu essa dificuldade em parte à legislação brasileira. “A questão regulatória é burocrática e difícil para esse tipo de produto”. O tempo demandado para estudos e pesquisa também é diferenciado. No caso da Eora Brasil, o desenvolvimento de fórmulas levou três anos. Por isso, a produção da indústria localizada em Maringá só chegou ao mercado em 2017. Mas o resultado, segundo Marilene, tem sido recompensador. “É um mercado incrível, que cresce em média 30% ao ano”, comemora. Presente em todo o território nacional, por meio de vendas online para fornecedores, a marca conta atualmente com dez produtos entre maquiagem, tratamento facial e cuidados com o cabelo. Outros dez devem começar a ser comercializados em 2020. Todos eles levam o selo de veganos, natural e cruelty-free. “Os veganos são aqueles sem componente de origem animal. Cruelty-free são os produtos que não foram testados em animais e naturais, os livres de ingredientes sintéticos”, explica a empresária. Em relação aos preços, a linha vegana é, em média, entre 20% e 30% mais cara do que os produtos tradicionais. Essa diferença se deve ao custo mais elevado e a dificuldade de encontrar matéria-prima orgânica. A empresária, no entanto, garante que o investimento compensa. “As pessoas estão intoxicadas por produtos de beleza e limpeza porque as linhas convencionais têm muitos metais pesados em sua composição. Os produtos veganos não têm metais na sua composição”, diz. De acordo com Marilene, os benefícios da linha Eora têm conquistado não apenas o público vegano e vegetariano, mas simpatizantes das causas animais e aqueles que estão em busca de qualidade de vida. A pedido da clientela Já o empresário Roberval de Carvalho incluiu linhas vegana e vegetariana na Biocorpus Centro de Terapia Estética a pedido da clientela. Lá os produtos livres de matéria-prima de origem animal representam quase 20% dos usados na clínica. “Temos entre 300 e 400 itens, e 70 são das linhas vegana e vegetariana”, diz o empresário. Boa parte dos cosméticos é usada na própria clínica, que oferece serviços de limpeza de pele, massagem, drenagem, fototerapia, entre outros. Esse público consome 80% dos produtos, de acordo com os cálculos de Carvalho, que não abre mão do feedback da clientela. “Existem três tipos de públicos. Aqueles que preferem os produtos a base de proativos naturais, os voltados para os vegetarianos e os para veganos. Temos opções para todos”, afirma. Mesmo com fórmulas diferenciadas, o empresário afirma que esse tipo de cosmético não é necessariamente mais caro do que os tradicionais cuja matéria-prima se equivale no quesito padrão de qualidade. Já se comparados aos mais populares, o valor sofre grande alteração. Embora reconheça as linhas veganas e vegetarianas como novidades, o empresário lembra que a tendência naturalista começou a ser propagada há mais de 20 anos. Segundo ele, os óleos e as essências usadas na aromoterapia tinham composição livre de ativos químicos. “A indústria de cosméticos evoluiu muito, entrou na casa das pessoas e facilitou o acesso à população”, destaca. Por isso mesmo, a busca da Biocorpus, que está no mercado há 19 anos, por novidades e alternativas para atender clientes com restrições é constante. “Há pessoas que têm reação alérgica a determinados componentes, como os corantes. Precisamos encontrar alternativas para atendê-los”. Moda sustentável A moda sustentável alçou voo no século 21 e, lentamente, está passando de uma simples tendência para um comportamento. Fora do Brasil grandes grifes já têm buscado o equilíbrio entre a natureza, economia e sociedade para conquistar um novo consumidor fashion, mais exigente e preocupado com o meio ambiente. Por aqui, as marcas ‘verdes’ ainda são poucas. Uma delas é a HCL Essential, grife de camisetas masculinas do empresário Leandro Neves. Lançada há quase um ano, a grife se diferencia pelo uso de itens de origem orgânica e pelo processo de produção de reutilização de matéria-prima. “Passei a ter um olhar amplo sobre a reutilização de recursos e a preservação ambiental com a convivência familiar. São valores que descobri com a família da minha esposa. E hoje é uma preocupação e um projeto pessoal. A indústria da moda é a segunda mais poluente no mundo, atrás apenas da indústria petroquímica. Seus impactos no ambiente são devastadores. E infelizmente são poucas as marcas com esse nível de preocupação”, lamenta Neves. Uma das dificuldades apontadas pelos empresários é o preço das matérias-primas, já que são produzidas em menor escala. No caso da HCL, há duas opções de camisetas: uma 100% de algodão orgânico e a outra de algodão com poliéster. Os custos de produção são outro obstáculo para a popularização da moda sustentável. A estamparia digital, por exemplo, é três vezes mais cara que a serigrafia, mesmo assim foi a escolhida por Neves. No processo digital não há sobra de tintas, uma vez que a aplicação é feita diretamente no algodão. O método tradicional inclui a lavagem das telas e a consequente liberação dos resíduos de tintas, que acabam no meio ambiente. “Não existe diferença no conforto. A diferença está no toque e no impacto no meio ambiente. Muitos não sabem o nível de toxicidade de determinados materiais, mas no caso das tintas é alto”, alerta o empresário. Uma opção, diz ele, seria usar corantes naturais, cujas fórmulas também são trabalhosas. Não menor é o custo da matéria-prima. A próxima coleção, por exemplo, será fabricada com algodão sem agrotóxico. “Isso encarece a produção, assim como o processo que dá a destinação correta aos resíduos”, diz o empresário. Apesar do alto custo, Neves confia no sucesso da grife e pensa em modelagens para atender o público feminino. Também espera dar mais visibilidade à marca ampliando os canais de compra. Hoje as camisetas da HCL estão à venda apenas na loja online própria, mas logo estarão disponíveis em marketplaces, como Dafiti e Amazon. A partir de 2020 as peças estarão em pontos físicos de venda.


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